Eles estão em quase todas as paisagens da cidade
Cantados por Dorival Caymmi, pintados por Carybé, tema de xilogravuras do mestre Calazans Neto, musa do poeta Arthur Salles... Nada é tão característico nas paisagens da Bahia quanto os coqueiros, ao lado das dunas de areia branca e fina. Uma das belas imagens que guardo das visitas a Salvador, quando vivia no Rio de Janeiro, era, sobrevoando de avião, ver, lá de cima, as dunas e os coqueirais, a senha pra saber que chegara à minha cidade. As dunas ainda existem em Salvador, no Parque Metropolitano do Abaeté, em torno da lagoa (da qual falaremos mais tarde). O turista encontrará coqueirais por praticamente todo o litoral baiano e também na capital, em Itapuã, principalmente.
Já falamos sobre o coqueiral do Jardim de Alah, Piatã e vimos fotos do Morro do Cristo (acima). São áreas onde a paisagem torna-se bela, com a presença deles. Ao contrário do que se imagina, o coqueiro não é típico do Brasil, embora exemplo de vegetação tropical. Ele foi trazido em 1553, como aponta estudo da Embrapa:
"O coqueiro gigante foi introduzido pela primeira vez no Brasil em 1553, no Estado da Bahia, sendo procedente das ilhas de Cabo Verde. A origem remota desse material seria a Índia ou Sri Lanka de onde cocos teriam sido introduzidos em Moçambique. Esta hipótese se acha confirmada pela semelhança entre o coqueiro do Oeste da África e o coqueiro Gigante de Moçambique (Nucé de Lamothe, 1983)."
"Eles sabem os segredos dos horizontes fugitivos..."
E também pela Seagri (Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária):
Originário do sudeste da Ásia o coqueiro foi introduzido no Brasil através da Bahia (daí côco-da-Baia) donde disseminou-se pelo litoral nordestino que é responsável por 90% da produção nacional; Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte, são os maiores produtores. Na Bahia as regiões econômicas Litoral Norte, Extremo Sul da Bahia, Região Metropolitana de Salvador são as maiores fornecedoras de coco.
Garcia D'Ávila, o almoxarife real, que chegou à colônia com o fundador de Salvador, Thomé de Souza, de quem era filho bastardo, em 1549, e ganhou as terras ao Norte da Cidade da Bahia, foi quem primeiro destinou área para o cultivo do coco, onde hoje fica a Praia do Forte (a cerca de 100km de Salvador). Suas terras, o Morgado da Torre, estendiam-se até o Piauí e formavam o maior latifúndio do Brasil, ocupando quase um terço do território da colônia portuguesa.
"...movem os longos braços na atonia da tarde..."
O seu fruto faz parte da culinária baiana típica em moquecas, cocadas, é servido em tiras nas festas de caruru, em deliciosos sorvetes, especialmente os da Ribeira, e beber sua água faz parte do ritual de praia e de passeios, para hidratação em dias muito quentes. O melhor é vir, ver e provar. Pra entender, leia antes o que diz o poeta Arthur Salles (1879-1952), o mesmo autor da letra do Hino ao Senhor do Bonfim sobre eles:
Os coqueiros
Movem os longos braços na atonia da tarde,
Friorentos, exaustos, sonolentos...
Uns laivos lívidos de sol cobrejam na água plúmbea,
Onde se apaga o seu perfil de cegonhas estranhas...
Rápidos, ruflos de asas
- Últimos estremecimentos vitais do dia -
Passam fugindo dos seus vultos meditativos.
A água é negra, o céu negro...
Os coqueiros dormem dentro da noite apagadora...
Ó, os coqueiros.
Eles sabem os segredos dos horizontes fugitivos...
Das distâncias irrelevadas...
Das praias ermas...
dos longes...
(Claudio Veiga, Sete Tons de uma poesia maior - uma leitura de Arthur Sales, Ed. Record, 2002)
E ouça o mestre Caymmi...
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