Espaço múltiplo, um grande festival, o carnaval de Salvador reúne atrações para todos os gostos. Muitos trios elétricos, blocos e camarotes fazem a alegria de quem vem à cidade nesta época. Mas o que de mais interessante a cidade apresenta são os personagens de rua. O contato com eles acontece pra quem brinca diretamente nos circuitos, sem cordas ou cordeiros.
O bloco que apresento neste post, Vá...que depois eu vou nasceu entre amigos e é mais um daqueles grupos bacanas do carnaval da Cidade da Bahia, feito no chão, com pessoas que te fazem rir, onde o folião desfila perto da banda e, se a cara-de-pau for muita, pode até pedir: "toca aquela do ..." que o maestro provavelmente não atenderá pois já tem o repertório pronto!
Politeama, bairro tradicional com seu casario antigo
Usei a palavra bacana porque, antiga, dá a dimensão das boas lembranças que a pauta trouxe para o blog. Destino: Politeama, centro de Salvador. O bairro, residencial e tradicional, ainda tem alguns exemplos da arquitetura dos anos 40 e 50, mas não tem apelo turístico, embora nele fiquem dois interessantes museus: o do Traje e do Têxtil, de moda das décadas de 30 a 50 do seculo 20, e o Henriqueta Catharino, de mobiliários dos séculos 18 e 19, ambos na Fundação Instituto Feminino da Bahia.
Atração do bairro: museus do Instituto Feminino da Bahia
Porém, está intimamente ligado à história da expansão de Salvador, na década de 1970, quando começaram a ser abertas as avenidas de vale. Ele dá acesso ao Vale dos Barris e daí para artérias importantes como Vasco da Gama, Centenário, Bonocô, entre outras. Um braço do Dique do Tororó chegava até o chamado Politeama de Baixo, onde hoje fica o Complexo de Delegacias. A área conhecida como Estacionamento dos Barris era uma grande roça, com árvores frutíferas e hortas. No plano de expansão, as terras foram desapropriadas e deram lugar a avenidas, quadras, estacionamento, delegacias...
Jayme e a camisa deste ano: homenagem ao amigo Raul
O bloco Vá...que depois eu vou desfila no sábado de Carnaval (18 de fevereiro). Sem a corda que separa foliões pipoca e integrantes, estes se reconhecem pela camisa (R$ 60, com direito a feijoada, cerveja, refrigerante e água). O trajeto é no Circuito Osmar / Avenida 7, mas a concentração, a partir das 10h, e a saída, às 13h30, acontecem no bairro. O interessante, e por isso o recomendo ao turista, é que nele pode-se sentir o clima dos antigos carnavais, que destacou a Festa de Momo em Salvador.
2011: músicos animam concentração do Vá...que depois eu vou
Conversar sobre ele com o professor Jayme Quintas, que criou o bloco com o amigo e vizinho Ricardo Pedreira, foi voltar no tempo e recordar personagens e agremiações que já fizeram parte do nosso Carnaval. O Politeama, conta Jayme, é um bairro cujo nome, na essência, significa muita diversão. Ao lado dele, dona Janice, 84 anos, lembra que ouvia do pai as histórias sobre o campo que ali havia, onde montavam-se circos e parques. Não existia, então, o Instituto Feminino. O bairro contou, também, com um teatro importante para a cidade.
Jorge Amado, tema do carnaval 2012, adaptado ao bloco do Politeama
Quem é das antigas, ainda lembra que é dali o famoso Bafo do Jegue, que teve origem da brincadeira de um morador chamado Hugo, mais alguns amigos que, inspirados pelo Bafo da Onça, bloco do Rio de Janeiro, cidade onde passara uma temporada, pegaram emprestado o jegue que pertencia a outro, de nome Tapioca, enrolaram o animal com papel higiênico, vestiram-se com lençóis (que mais tarde daria origem à mortalha, indumentária carnavalesca que precedeu o macacão e o abadá, nesta ordem) e saíram do Politeama para brincar nas ruas. O povo, claro, foi atrás. O bairro tinha, ainda, a Escola de Samba Polytheama, três vezes campeã baiana, e outra agremiação muito conhecida, o Previsão (das décadas de 70 e 80).
Dona Janice, a foliã mais velha do bloco, no desfile de 2011
Vá...que depois eu vou é novo, comparado à toda essa história, nos seis anos de existência. Entre os participantes há médicos, professores, delegados, advogados, estudantes, além dos antigos moradores, seus filhos e netos. Na saída e na chegada, por sugestão de dona Janice, a banda toca o Hino ao Senhor do Bonfim, e o repertório da banda Status, do Maestro Magrão, segundo Jayme, vai de marchinhas a sucessos atuais.
Na Avenida 7 foliões na varanda e imponência das Mercês
Antes de ganhar a avenida, foliões e foliãs almoçam a tradicional feijoada (feijão preto e defumados), tomam cerveja e refrigerantes. Enquanto isso, a banda esquenta os instrumentos, tocando para os moradores. No percurso, há paradas no Relógio de São Pedro, e próximo ao Largo das Flores (na Rua Carlos Gomes), "para abastecer", brinca Jayme. O bloco passa por atrações turísticas como a Igreja das Mercês, Igreja do Rosário, Praça da Piedade, Ladeira de São Bento e Praça Castro Alves, de onde retorna. Interessado em participar? Informações: (71) 8125-7082 / 9983-9512. Eu vou.
Momentos de descontração no desfile...
...em que há espaço para jovens...
...de todas as gerações (acervo do bloco Vá...que depois eu vou!)
Confira aqui a programação oficial do Carnaval de Salvador.
E aqui, informações, telefones e endereços úteis para o turista-folião.
4 comentários:
Me espera que eu também vou!
CristinaNasci
Estive por 2 anos consecutivos... agora tou muito longe.
Saudades desse bloco delicioso.
Bjssss Jaiminho.
Maria, Manchester, Reino Unido.
Jayme! sucesso,acredito que esse bloco será o mas animado de todos e é uma pena não estar presente nessa festa tão bonita que será realizada logo mais..
um grande abraço
Belle
Sou da geração do Bafo do jegue,que tinha Jaime,João,Agnelo,Ivaldo,Zezinho.Esses eu convivia,eram pessoas amigas.Saudades.O Bafo acabou faz é tempo,mas até algum tempo atrás,ainda tinha uma fita vermelha com o nome do Bloco.Estou em outro Estado,mas nunca esqueço.Todo Carnaval,passa um filme na minha saudade.
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