"E a gente se completa, enchendo de alegria, a praça e o poeta" (Moraes Moreira)Quem faria turismo assim, de caminhão? Pois os baianos fazem. São capazes de acompanhar um caminhão (de trio elétrico, claro) por quilômetros, cantando, dançando, bebendo ou trabalhando. É, minha gente, baiano trabalha, e muito. Imagine carregar uma caixa de isopor nos ombros, cheia de pedras de gelo, latas de cerveja e refrigerantes, copos de água mineral, e ainda dançar? Os ambulantes do carnaval da Bahia o fazem com maestria. Não acredita? Vá a Salvador e comprove. Experimente.
Que me perdoem os atuais compositores de músicas de carnaval, mas a que tem melhor sugestão para um roteiro de turismo, em Salvador, ainda é "Chame Gente", poesia de Moraes Moreira feita com base em uma melodia de introdução do trio feita Armandinho Macedo, do trio elétrico de Dodô e Osmar.
"Chame Gente" é de 1986, um belo momento de inspiração do compositor Moraes Moreira, o primeiro cantor de trio elétrico do Brasil. Em 1978, ao lançar a carreira solo, depois de integrar o grupo Novos Baianos (com Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Luís Galvão e Paulinho Boca de Cantor, entre outros), Moraes decidiu soltar a voz do alto do caminhão, que até então tinha somente cordas e percussão para animar a "galera" da "pipoca" (outra instituição do Carnaval baiano, pois, àquela época, eram raros os blocos de corda). Antes dos cantores de trio, a atração era o ritmo dos músicos e percussionistas (Gerônimo, autor de "É d'Oxum", que também foi Rei Momo do Carnaval de Salvador, um deles), acompanhado do coro que vinha de baixo: das centenas de pessoas que os seguiam.
E o que tem isso a ver com passeios? Pois, voltando a "Chame Gente", essa música, na minha opinião, é uma das que melhor apresenta as atrações turísticas de Salvador. Preste atenção à letra: "ah, imagina só, que loucura, essa mistura (a população, o sincretismo religioso). Alegria é um estado (de espírito em que vive o soteropolitano durante o verão) que chamamos Bahia". Pronto você já desembarcou no Aeroporto Internacional de Salvador Deputado Luís Eduardo Magalhães e hospedou-se em um hotel, pousada, albergue (ou apartamento que alugou para o carnaval).
Aí começa a conhecer a cidade..."de todos os santos (a baía e seus passeios de barco pelas ilhas, de escuna contornando as principais praias de dentro, como Porto da Barra e Monte Serrat), encantos (os orixás do Dique do Tororó, o Morro do Cristo, na Barra, a cor do mar, o por-do-sol em Monte Serrat ou Farol da Barra) e axé (os famosos terreiros, Gantois, na Federação, Casa Branca, na Avenida Vasco da Gama, Ilê Axé Opô Afonjá e outros), sagrado (sexta-feira do Bonfim, as lavagens das escadarias das igrejas, presente de Iemanjá, dia 2 de fevereiro no Rio Vermelho, caminhadas cristãs do Campo Grande à Praça Municipal, o santuário de Irmã Dulce, em Roma, as igrejas e demais templos religiosos) e profano (as festas carnavalescas que precedem e sucedem as lavagens de igrejas, os ensaios de verão), o baiano é carnaval". Tenho ou não razão?
Quer fazer o passeio "Chame Gente"? Ouça a música e crie o roteiro!
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