Passei uma deliciosa tarde de sol fazendo um roteirinho no bairro da Graça, um dos mais nobres de Salvador. Fica próximo ao Campo Grande e à Barra, ou seja, há atrações de sobra pra quem desembarcar por ali. Como amanheceu com tempo nublado, a ideia era visitar um museu. O escolhido foi o Palacete das Artes Rodin Bahia (Rua da Graça, tel. 71 3117-6986), onde obras originais em gesso do escultor francês Auguste Rodin (1840-1917), considerado um dos maiores artistas do final do século 19, estarão expostas até outubro, quando completa o terceiro ano do comodato entre o governo da Bahia e o Museu Rodin Paris, que cedeu as peças. Se quer ver, se apresse!
A encantadora Igrejinha da Graça faz parte deste roteiro
Ao chegar ao bairro, pela Avenida Princesa Leopoldina, desembarquei bem defronte àquela considerada a primeira igreja do Brasil em homenangem à Virgem Maria. Reserve um tempo e pare aí para conhecer. Vale a pena. Relata o escritor Adelindo Kfoury Silveira no Pequeno Histórico da Igreja de Nossa Senhora da Graça (que pode ser adquirido no local por R$ 5):
O bairro da Graça, considerado como um dos mais importantes logradouros da cidade de Salvador - Capital do Estado da Bahia - nasceu dentro de uma área da Aldeia Tupinambá inicialmente com a denominação de Vila Velha(...)Tem-se referência do surgimento deste templo um nicho em barro construído pela kunhã (esposa) tupinambá de um português chamado Diogo Álvares Correia, que durante a gravidez sonhou com uma linda mulher branca carregando uma criança e pedindo-lhe abrigo
Era a índia Catarina Paraguassú e o nobre, o Caramuru, que naufragara na costa do Rio Vermelho, fora aprisionado pelos índios mas deles tornara-se um líder, brandindo arma de fogo que os nativos não conheciam e passaram a temer, contam os livros de história do Brasil. Há relatos de que o oratório recoberto de palmas, datado de 1530, foi substituído pela atual igrejinha construída em 1557, depois da morte de Caramuru. Consta que o casamento entre Caramuru e Paraguassú foi ali realizado, e em 1586 capela e terras, doadas por Catarina, cujos restos mortais repousam na igreja, ao Mosteiro de São Bento. O mais, você descobrirá no local.
Antes de sair, observe o altar-mor do século 16, a imagem original, os túmulos de Catarina Paragassú e o teto que reproduz em afresco o sonho da índia com a Virgem Maria. A sacristia abriga algumas obras de arte e dá para um belo jardim em forma de claustro. A igreja é sombreada por seculares oitis, em um recanto bonito e agradável.
Do largo da Graça pode ir a pé para o museu
Ao sair, verá a Praça Dr Patterson, adotada pelo Hospital Português, com busto do patrono, embora o lugar seja mais conhecido como Largo da Graça. Daí, caminhe pela Rua da Graça até o Palacete das Artes, que fica bem perto, observando outras antigas residências que ainda resistem à especulação imobiliária. Ao chegar ao Museu Rodin, atravesse a rua e faça logo uma foto da fachada. Respire, entre e comece a se deslumbrar já no jardim. A entrada é gratuita (terça a domingo, das 10 às 18h).
Depois de caminhar na Graça, chegamos ao Rodin Bahia
A antiga Villa Catharino teve como primeiro dono o Comendador Bernardo Martins Catharino e data de 1912. Tornou-se o primeiro imóvel de estilo eclético tombado como Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), por proposta do antropólogo Thales de Azevedo, em 1986. Funcionou como sede da secretaria e dos conselhos de educação e cultura. Eu estava lá, em um dia do ano de 2002, cobrindo a reunião do conselho que aprovou a criação do Museu Rodin e noticiei em primeira mão. O museu seria instituído um ano depois mas as obras do artista só foram trazidas para a Bahia em outubro de 2009, emprestadas do acervo do Rodin de Paris. A exposição consta de 62 esculturas em gesso, inclusive as mais famosas: O Beijo e O Pensador. Pare diante dele (tem um banco pra isso), sente e pense. É uma obra belíssima.
O torso das sombras (1901), do acervo permanente
Fiz logo as fotos externas, porque dentro do museu não é permitido fotografar. Respeite. Há monitores simpáticos, como Dalva Sorriso e Hector, para orientar o seu passeio. Siga sempre pela direita. Com atenção. É uma exposição de surpresas, uma viagem ao tempo da delicadeza...Em todas as salas, nas paredes, há informações e frases de Auguste Rodin. Gostei especialmente destas:
"Por um momento ela parece uma flor: a flexão do torso imita o caule. Por momentos, lembra uma liana flexível. Outras vezes, ainda, é uma urna...O corpo humano é sobretudo o espelho da alma e daí vem a sua maior beleza."
"Não existe receita para embelezar a natureza. Trata-se, tão somente, de vê-la."
Uma sala reproduz o ateliê do artista, e outra, ainda, conta a história do palacete. Observe as fotos da família Catharino no jardim, que ainda hoje preserva algumas características do início do século. Depois, siga para o anexo onde há uma exposição do artista Bel Borba, assunto para o outro post. Passe ainda pela loja do museu, caso queira uma lembrança: catálogos, canecas, ímãs de geladeira, livros e CD's, entre outras. Defronte, há o Café do Solar e seus largos sofás para terminar a visita contemplando a beleza do jardim, tomando um espresso ou um petit gateau. Sinta-se em Paris. Com muito calor baiano. Eu fiz assim!
Um momento de descanso nos largos sofás do café
Ao sair do palacete encontrará outros café, caso queira variar, como o Fran's. Siga caminhando em direção ao Corredor da Vitória, e encontrará lanchonetes (Subway e McDonald's), docerias (Doce Sonhos e Frio Gostoso) e o famoso tabuleiro de Acarajé da Regina no início (ou final, como queira) da Rua da Graça, já próximo ao Largo da Vitória.
Nesta parte do roteiro, começa outro passeio que vai incluir a Igreja de Nossa Senhora da Vitória, e outros três museus (Costa Pinto, de Arte da Bahia e o Geológico, com a história do petróleo, cujo primeiro poço brasileiro fica em Salvador, no bairro do Lobato). Em seguida, sugiro pôr-do-sol no Farol da Barra ou no Solar do Unhão. Isso eu conto como é, depois. Há meios de hospedagens na região: Sol Marina Vitória, Hotel Bahia do Sol e Hotel Vila Velha.
Na loja, foto do jardim do Rodin Paris e lembranças
Nem precisa dizer que aquele nosso tempo nublado, citado no início da matéria, foi embora. Acostume-se com Salvador: o tempo pode parecer feio mas de uma hora para outra o sol reaparece e vai fazer calor. Estamos no verão!
2 comentários:
Silvia, só hoje pude acessar seu blog e ler os deliciosos textos sobre Salvador. Muito legal! adorei e voltarei sempre ;) bjs, @AnaMartinez
Bom dia...
Silvia é belo tudo que aqui colocas
peço que aumente teu espaço e pesquiza para nossa Matriarca Catarina Paraguaçú
desejo ver que diz a inscrição em seu túmulo na Igreja de Na. Sra. das Graças...
Abraços...Walter
Walter de Arruda
www.recantodasletras.com.br
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